Participantes acusam organização de usar procura por emprego para forçar presença em evento político com o Presidente da República.
Maputo, 8 de agosto de 2025 — Milhares de jovens acorreram, desde as primeiras horas desta sexta-feira, ao Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, onde decorre a Feira Nacional de Emprego e, em simultâneo, a VIII Conferência Nacional da Juventude (CNJ). No entanto, o que prometia ser uma jornada de esperança e oportunidades acabou gerando indignação entre os participantes.
A Feira, que atraiu grande afluência juvenil em busca de oportunidades profissionais, conta com cerca de 60 empresas expositoras. Jovens munidos de currículos e expectativas percorreram os corredores da feira na esperança de encontrar uma chance concreta de emprego. Mas, ao circularem entre os stands, muitos foram direcionados — ou mesmo forçados — a entrar na sala onde decorreria a CNJ, presidida pelo Presidente da República.
Segundo relatos, a ordem foi clara e direta: "ninguém sai e ninguém entra até a chegada do Presidente da República". A situação foi vista por muitos como um bloqueio deliberado, o que gerou desconforto e revolta.
> “Parece que fomos usados para encher um evento político, quando na verdade viemos atrás de empregos”, desabafou um dos jovens presentes, que preferiu não se identificar.
A CNJ, embora dirigida à juventude, ocupou um tempo considerável dentro da programação da feira, que por si só já é de curta duração — apenas um dia. Para muitos, a justaposição dos dois eventos, no mesmo local e no mesmo dia, foi tudo menos coincidência.
O Governador da Província de Inhambane, Daniel Chapo, afirmou durante a conferência que “a juventude é a agenda do Governo e prioridade presidencial”, destacando que já há jovens empregados no sector público e que alguns começaram a receber salários em atraso por horas-extraordinárias.
Contudo, a insatisfação persistiu. Vários jovens levantaram suspeitas de que a “retenção” seria uma estratégia para dar a entender que o evento contou com elevada adesão espontânea. A realidade, no entanto, parece ser bem mais crítica, como apontou um dos participantes:
> “Só há duas vagas nas empresas, e mesmo assim pedem licenciatura, mestrado e cinco anos de experiência! É uma piada.”
contexto e críticas
Feiras de emprego são, geralmente, vistas como pontes entre os jovens e o mercado de trabalho. No entanto, quando associadas a eventos políticos ou protocolares, levantam questões sobre a real intenção por trás da organização.
Neste caso, a obrigatoriedade imposta aos jovens para permanecerem na conferência enquanto aguardavam oportunidades de trabalho foi o estopim para críticas nas redes sociais e nos corredores do próprio evento.
o que esperar daqui para frente?
Com o encerramento da CNJ, a Feira Nacional de Emprego prossegue normalmente. Ainda assim, o episódio já marcou negativamente a percepção de muitos sobre a forma como políticas públicas voltadas à juventude são conduzidas.
A juventude moçambicana, cada vez mais crítica e consciente, exige não apenas promessas e discursos, mas ações concretas que respeitem a sua dignidade, tempo e, sobretudo, o seu direito de escolha.
Siga-nos para mais atualizações sobre eventos em Moçambique e notícias de impacto social.
0 Comentários