Partidos da oposição moçambicana manifestaram duras críticas à Procuradoria-Geral da República (PGR) pela forma como está a conduzir o processo judicial contra Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial do partido PODEMOS. As declarações foram feitas durante o programa Noite Informativa, transmitido na última quinta-feira (24), pelo canal privado STV.
Mondlane é acusado pelo Ministério Público de cinco crimes relacionados às manifestações pós-eleitorais, entre eles incitamento à desobediência colectiva e terrorismo. No entanto, os partidos da oposição argumentam que a Justiça está a agir de forma desigual ao não responsabilizar igualmente membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS), amplamente criticadas pelo uso da força durante os protestos.
Acusações de perseguição política
Hélder Mendonça, representante do PODEMOS, questionou o tratamento diferenciado dado ao seu partido e a Mondlane:
> “Por ironia ou por qualquer intenção que não compreendo, as penalizações que são atribuídas a Venâncio não são nem compatíveis com aquilo que hoje, sob o ponto de vista cível, são atribuídas ao partido PODEMOS.”
Ismael Nhacucue, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), reforçou a visão de que se trata de uma tentativa deliberada de silenciar a figura política de Mondlane, destacando um alegado padrão de perseguição judicial a membros da oposição.
Analistas apontam manobras de distração
Durante o programa, também foram abordados outros casos judiciais envolvendo figuras de destaque do governo, como o antigo Ministro do Interior e o ex-Comandante-Geral da PRM. Marcial Macome, da RENAMO, expressou desconfiança sobre esses processos paralelos:
> “Conhecendo esta instituição, olhando para o histórico dela, nada me faz crer que este processo tenha pés para andar, mas apenas existe como um processo para ludibriar o processo principal para não dizer que não estamos a fazer nada.”
Alerta para novo clima de tensão
Mendonça fez ainda um alerta sobre o risco de novos episódios de instabilidade, caso o processo judicial contra Venâncio não seja tratado com responsabilidade institucional:
“O Estado Moçambicano e a Procuradoria, de forma geral, precisam compreender que este já não é um processo do Venâncio Mondlane, precisam compreender que os efeitos deste processo podem se traduzir em danos superiores aos das mais recentes manifestações.”
Caminho político em discussão
O partido PODEMOS anunciou para este sábado a realização de um Conselho Político, onde o processo de Mondlane será um dos pontos principais. A agremiação pretende levar a discussão ao Parlamento, na busca por uma resolução política e não judicial para o impasse.
A situação evidencia o crescente desgaste entre os órgãos de justiça e os partidos de oposição, num contexto ainda marcado pelas feridas abertas dos protestos pós-eleitorais.
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