Ministério Público moçambicano admite rever medidas de coação de Venâncio Mondlane

 

Acusado de cinco crimes, político da oposição segue em liberdade provisória, mas situação judicial pode mudar conforme as circunstâncias evoluírem.

O Ministério Público (MP) de Moçambique confirmou nesta semana a possibilidade de rever as medidas de coação aplicadas a Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial e uma das figuras centrais das manifestações pós-eleitorais que marcaram o país desde outubro de 2024. A informação consta no despacho de acusação entregue ao político na terça-feira, na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Maputo.

Mondlane é formalmente acusado de cinco crimes, nomeadamente:

• Apologia pública ao crime,

• Incitamento à desobediência coletiva,

• Instigação pública a um crime,

• Instigação ao terrorismo, e

• Incitamento ao terrorismo.

De acordo com o documento do MP, o político agiu com premeditação e apoio de terceiros, utilizando meios de comunicação para convocar manifestações e promover resistência aos resultados eleitorais, que ele afirma serem fraudulentos. A acusação baseia-se em provas testemunhais, vídeos de redes sociais, gravações, documentos bancários, tráfego de chamadas e relatórios de transações eletrónicas.

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 "Contra o arguido militam circunstâncias agravantes", lê-se no despacho, que menciona a execução em grupo e o uso de meios de publicidade como fatores agravantes.

No entanto, apesar da gravidade das acusações, o Ministério Público admite manter, por agora, o Termo de Identidade e Residência como única medida de coação. O documento ressalta, porém, que essa medida poderá ser modificada “em função da alteração das circunstâncias”.

Mondlane se defende e critica sistema judicial

Após receber o despacho sob forte aparato policial na capital, Mondlane reafirmou sua inocência, alegando estar de "consciência tranquila" e pronto para enfrentar o julgamento com o apoio de uma equipa internacional de advogados.

"Eu prestei um grande serviço a esta nação. [...] Tiramos a máscara da fraude e levamos até à extrema resistência contra um regime ditatorial", declarou o político à imprensa.

Mondlane também acusou o sistema judicial moçambicano de ser "seletivo" e conivente com o poder político, afirmando que "aqueles que combatem o crime são perseguidos, presos e até mortos".

Conflito pós-eleitoral e impactos sociais

Desde as eleições gerais de 09 de outubro de 2024, Moçambique mergulhou em um clima de tensão social. Mondlane rejeitou os resultados que deram vitória a Daniel Chapo, da Frelimo, e convocou manifestações nacionais que resultaram em confrontos violentos. Segundo organizações independentes, cerca de 400 pessoas morreram durante esses protestos, além de inúmeras ocorrências de vandalismo, destruição de propriedade pública e privada, e confrontos com a polícia.

O cenário só começou a mudar após dois encontros entre Mondlane e Chapo — um em março e outro em maio — que visavam a pacificação do país.

A decisão do Ministério Público de manter ou rever as medidas de coação contra Venâncio Mondlane poderá ter impacto direto no equilíbrio político e social de Moçambique. Com o julgamento a caminho, cresce a expectativa tanto entre os apoiantes do político quanto entre os críticos do atual sistema judicial. O caso pode tornar-se um marco na história da democracia moçambicana, especialmente no que diz respeito à liberdade de expressão, participação política e atuação do poder judiciário.

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