Moçambique, Cabo Delgado – Junho de 2025 — A população da vila de Mueda, localizada na província de Cabo Delgado, vive sob o que muitos descrevem como um recolher obrigatório não declarado, imposto de forma informal pela Força Local, que atua no combate ao terrorismo na região.
Segundo relatos de moradores, transmitidos pela emissora privada STV, a circulação de pessoas está terminantemente proibida a partir das 21h, sendo que os que desrespeitam essa "regra" enfrentam represálias severas. “Se te pegarem com a Força Local, a culpa é tua… Se não tens B.I., a culpa é tua. Se te apanharem, vais levar chamboco e vais à cela”, relatou um dos residentes, visivelmente preocupado com a situação de restrição.
A medida é justificada pelas autoridades comunitárias como forma de garantir segurança em meio às constantes ameaças terroristas que têm assolado a província nos últimos anos. No entanto, os residentes locais consideram a ação excessiva e limitadora das liberdades fundamentais. Muitos afirmam que compreendem a necessidade de segurança, mas acreditam que o controlo poderia ser feito com mais equilíbrio e respeito pelas liberdades individuais.
“Dizem que é por causa do terrorismo, mas deviam deixar as pessoas divertir até a qualquer hora”, desabafou um outro habitante de Mueda, evidenciando o sentimento generalizado de frustração entre os jovens e comerciantes locais.
Durante a noite, o cenário torna-se desolador: o comércio fecha completamente, várias ruas ficam bloqueadas e os membros da Força Local patrulham de forma ostensiva. Para muitos, trata-se de uma “lei silenciosa” que está a transformar a vila num local de medo e tensão, especialmente para aqueles que dependem das atividades noturnas para garantir o sustento diário.
Organizações da sociedade civil e defensores dos direitos humanos têm apelado às autoridades locais e ao governo central para que se estabeleçam mecanismos claros de segurança que não suprimam os direitos fundamentais da população. Pedem também maior regulação e fiscalização das ações da Força Local para evitar abusos de poder e proteger os direitos dos cidadãos.
A situação em Mueda é mais um reflexo do delicado equilíbrio entre segurança e liberdade numa província marcada por anos de conflito armado e ameaças terroristas. Enquanto isso, a população continua a viver entre o medo e o desejo de recuperar a normalidade no seu dia a dia.