Polícia Assume Sede da RENAMO e Tem Acesso a Todos os Segredos do Partido, Segundo Elias Dhlakama

 

A tensão política dentro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) ganhou novos contornos nos últimos dias, após a apropriação da sede nacional do partido e do gabinete do Presidente pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR). A ação, segundo Elias Dhlakama — membro sénior da RENAMO e irmão do histórico líder Afonso Dhlakama — levanta sérias preocupações sobre a segurança interna do partido e o destino das suas informações confidenciais.

Falando à margem da IV Reunião da Associação dos Combatentes de Libertação (ACOLDE), realizada recentemente em Maputo, Elias Dhlakama não escondeu a sua indignação com o que considera uma “apropriação forçada” das infraestruturas do partido. Ele afirmou desconhecer quem terá solicitado a intervenção da polícia e classificou o episódio como “muito estranho e lamentável”.

Hoje, a polícia tem todos os segredos da RENAMO. Eles devem ter tirado todas as informações dos gabinetes. Isso não devia ter acontecido”, afirmou Dhlakama, visivelmente inconformado com a situação.

Segundo ele, a força policial que hoje ocupa as instalações do partido é a mesma que, no passado, esteve envolvida em alegadas tentativas de assassinato contra Afonso Dhlakama, incluindo episódios em Xibaza, Zimpinga, na casa da Beira, e até em Nicoadala.

A presença da UIR nas instalações da RENAMO é interpretada por Elias Dhlakama como uma violação da autonomia do partido e um sinal de fragilidade interna. Ele associa a intervenção policial à crise que a RENAMO vive atualmente, marcada por uma crescente divisão entre a direção de Ossufo Momade e os antigos combatentes desmobilizados, que exigem a sua saída da liderança.

Dhlakama usou uma metáfora familiar para ilustrar a sua visão sobre o momento delicado:

Quando há problemas com o filho, o pai tem de ser chefe da família. Deve resolver dentro de casa e não chamar os adversários, que hoje se fazem de amigos apenas para se salvarem da situação”.

A crítica sugere que a direção atual do partido falhou em gerir a crise interna com maturidade política, abrindo espaço para a intervenção de forças externas. Ao permitir a entrada da polícia em instalações que continham documentos e dados estratégicos, a RENAMO pode ter comprometido elementos sensíveis da sua história, das suas estratégias e até dos seus posicionamentos.

Apesar da gravidade da situação, até o momento a direção da RENAMO não se pronunciou oficialmente sobre a ação da UIR, tampouco prestou esclarecimentos sobre a natureza das ordens que resultaram na expulsão dos desmobilizados.

Este novo capítulo na história da RENAMO levanta várias questões sobre o futuro do partido, a sua coesão interna e a real autonomia das forças políticas em Moçambique. Para muitos observadores, a revelação de Elias Dhlakama é um alerta claro sobre o risco de degradação de um dos maiores partidos da oposição no país.

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