O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, voltou à cena pública nesta quarta-feira (05), após meses de silêncio marcados por crescentes tensões internas no partido e descontentamento entre os antigos guerrilheiros. O líder partidário, que esteve afastado dos holofotes, quebrou o silêncio durante a abertura da IV Reunião da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE), evento que serviu de palco para um pronunciamento carregado de acusações e tentativas de reposicionamento político.
O contexto da sua reaparição é delicado. Em maio passado, membros da ala já desmilitarizada da RENAMO invadiram a sede do partido e o seu gabinete em Maputo, exigindo sua renúncia. Os ex-combatentes, frustrados com os resultados do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), apontam Momade como responsável direto pela má gestão do processo, em particular pela falha na inclusão de todos os desmobilizados nas pensões de reforma prometidas.
Num discurso assertivo, Momade procurou distanciar-se das responsabilidades, colocando o ónus sobre o Estado moçambicano e a comunidade internacional. “Não é a RENAMO, muito menos Ossufo Momade quem define e paga os valores das pensões. É dever do Estado, através do Governo, materializar todo o processo de pensões”, afirmou, num tom visivelmente defensivo.
Além disso, o líder da RENAMO criticou a falta de compromisso dos parceiros internacionais, mencionando especificamente o embaixador suíço Mirko Manzoni, que representou a comunidade internacional nas negociações do DDR. “Lamentavelmente, não estamos a ter os resultados das promessas da comunidade internacional”, lamentou Momade, acrescentando que o apoio esperado nunca foi plenamente cumprido, o que tem agravado o descontentamento entre os ex-combatentes.
Apesar das críticas, Momade defendeu a continuidade do diálogo entre as partes envolvidas no processo de paz, sublinhando que os compromissos anteriormente firmados durante a liderança de Afonso Dhlakama continuam válidos. “Não foram substituídas as pessoas indicadas por Dhlakama para negociar o DDR e nem foram alterados os entendimentos já existentes”, garantiu, tentando reforçar uma imagem de continuidade e lealdade aos princípios do fundador histórico da RENAMO.
Respondendo às acusações de corrupção e má gestão financeira levantadas por membros descontentes do partido, Momade foi categórico: “Nunca recebi qualquer valor destinado aos desmobilizados. Quem tiver provas que as apresente.” Essa declaração visa dissipar os rumores sobre supostos desvios de fundos que teriam agravado a crise de confiança dentro da RENAMO.
O ressurgimento de Ossufo Momade ocorre num momento crucial para a estabilidade interna da RENAMO e para o próprio processo de reconciliação nacional. O líder tenta agora restabelecer sua autoridade enquanto lida com uma ala crítica, a desconfiança pública e a pressão crescente por resultados concretos.
À medida que o processo de DDR continua a enfrentar obstáculos, resta saber se o posicionamento de Momade será suficiente para restaurar a coesão dentro do partido e reestabelecer a confiança dos ex-combatentes, cuja integração e segurança continuam a ser um ponto sensível no panorama político de Moçambique.