O centro da cidade de Maputo viveu momentos de tensão e pânico nesta segunda-feira (2), após agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) realizarem disparos e usarem gás lacrimogéneo contra vendedores informais no movimentado mercado Estrela Vermelha. O motivo? A tentativa de recuperar um telemóvel supostamente roubado que, segundo fontes locais, pertenceria a um comandante da própria polícia.
A operação, que começou ainda nas primeiras horas da manhã, envolveu a invasão das bancas por parte de agentes armados, alguns deles à paisana. Telemóveis e outros aparelhos eletrônicos foram apreendidos de forma agressiva, sem apresentação de mandados ou qualquer documento legal. Os vendedores, pegos de surpresa, denunciaram o confisco como arbitrário e injustificado, acusando os agentes de abuso de poder.
Segundo testemunhos colhidos no local, a alegação dos polícias era de que estariam à procura de um telemóvel furtado dias antes, que teria sido rastreado até o mercado. No entanto, rumores que circulavam entre os comerciantes apontavam que o aparelho em questão pertencia a um comandante da PRM, o que teria motivado uma ação rápida e com força desproporcional.
Vendedores indignados e caos nas ruas
Após a ação policial, a revolta dos vendedores foi imediata. Pneus foram incendiados nas imediações do mercado, bloqueando as vias principais e impedindo o fluxo normal de viaturas no centro de Maputo. Gritos de protesto ecoavam pelas ruas, exigindo a devolução dos bens apreendidos e responsabilização dos agentes envolvidos.
“O que aconteceu foi um roubo à mão armada, feito por quem deveria proteger-nos”, declarou um vendedor, que preferiu manter anonimato. Segundo ele, vários comerciantes perderam aparelhos novos que estavam à venda, além de acessórios eletrônicos e até dinheiro guardado em mochilas.
Polícia volta armada e dispara contra civis
A tensão aumentou ainda mais no início da tarde, quando dezenas de agentes da polícia retornaram ao Estrela Vermelha, desta vez fortemente armados. Sem qualquer diálogo com os manifestantes, tiros de intimidação foram disparados para o ar, seguidos por lançamentos de gás lacrimogéneo.
“Foi um cenário de guerra. Gente a correr por todo lado, mulheres a desmaiar, crianças a chorar. Não houve qualquer sensibilidade da polícia em lidar com a situação”, contou uma comerciante visivelmente abalada.
A operação gerou críticas severas nas redes sociais, com vídeos circulando amplamente, mostrando os momentos de disparos, correria e sufoco causado pelo gás. A indignação popular cresceu ainda mais ao surgir a informação de que a operação teria sido motivada por interesses pessoais de um comandante, colocando em xeque a imparcialidade da atuação da PRM.
Impunidade ou Justiça?
Até o momento, nenhuma autoridade se pronunciou oficialmente sobre os acontecimentos no Estrela Vermelha. Não há informações sobre a recuperação do telemóvel supostamente furtado, nem se haverá investigação sobre o comportamento dos agentes envolvidos.
A população, no entanto, cobra transparência e justiça. “Se a polícia pode entrar, levar tudo, atirar e depois ir embora como se nada fosse, estamos todos reféns da farda”, disse um ativista comunitário que acompanhava os protestos.
Este novo episódio de violência institucional reacende o debate sobre a atuação das forças de segurança em Moçambique e a constante tensão entre a polícia e os vendedores informais, que muitas vezes são tratados como criminosos, mesmo sem provas ou mandados legais.