A recente deslocação do Presidente da República, Daniel Chapo, ao Malawi está a gerar forte polémica em Moçambique, não pelo conteúdo político da visita, mas sim pelo meio de transporte utilizado: um jacto de luxo alugado por um valor considerado exorbitante por diversos segmentos da sociedade. A viagem foi feita num Bombardier Global Express, alugado à empresa suíça TAG Aviation Limited, a um custo estimado de 11 mil dólares por hora, o que equivale a aproximadamente 700 mil meticais por hora ao câmbio atual.
O Presidente Chapo desembarcou na cidade de Blantyre, capital comercial do Malawi, na última quinta-feira, para uma visita oficial. No entanto, o detalhe que mais chamou atenção foi o uso da aeronave de luxo, num contexto nacional onde o próprio governo tem apelado, com insistência, à contenção de despesas e ao combate ao despesismo no aparelho do Estado.
Custo Eleva-se em Meio a Crise Económica
O uso de meios de transporte de elevado custo por parte de altos dirigentes sempre gerou controvérsia em Moçambique, especialmente quando se trata de recursos públicos. Com uma tarifa de 700 mil meticais por hora, presume-se que a viagem de ida e volta ao Malawi, somando tempo de voo, preparação e eventuais tempos de espera, pode ter custado dezenas de milhões de meticais aos cofres do Estado.
A ironia da situação é que o próprio executivo liderado por Chapo tem defendido a racionalização de gastos, com cortes em despesas tidas como supérfluas, como parte de uma estratégia de reestruturação orçamental e austeridade, numa altura em que o país ainda lida com os impactos da dívida oculta, inflação elevada e desafios nos setores da saúde e educação.
Indignação nas Redes e na Sociedade Civil
A revelação do valor do aluguer causou alvoroço nas redes sociais e entre membros da sociedade civil. Várias vozes apontam para a falta de coerência nas práticas governamentais e questionam a real necessidade de recorrer a uma aeronave tão luxuosa para uma deslocação regional.
“É inadmissível que o Presidente viaje num jacto que custa mais de meio milhão de meticais por hora enquanto hospitais públicos enfrentam escassez de medicamentos básicos”, criticou um ativista social numa publicação viral no Facebook. Outros cidadãos expressaram preocupação sobre as prioridades do governo, principalmente num contexto de crise econômica e cortes em setores sensíveis.
Presidência Mantém Silêncio
Até ao momento, a Presidência da República ainda não emitiu nenhum comunicado oficial explicando os motivos para a escolha da aeronave ou justificando os custos envolvidos. O silêncio está a alimentar ainda mais o debate público, com apelos para maior transparência na utilização de fundos públicos.
Alguns analistas sugerem que o governo poderia ter recorrido à frota aérea militar, como já ocorreu em deslocações anteriores, ou utilizado companhias comerciais com voos programados para o país vizinho, o que teria reduzido significativamente os custos.
Debate sobre a Ética do Poder
Mais do que o custo isolado da viagem, o caso levanta um debate mais profundo sobre a ética no exercício do poder em Moçambique. Num país com enormes desigualdades sociais e elevado índice de pobreza, decisões como esta colocam em causa o compromisso real com uma governação responsável, ética e sensível às condições do povo.
A oposição política também começou a reagir, classificando a viagem como “mais um exemplo da insensibilidade do governo perante os reais problemas do país”.
Resta saber se este episódio levará a uma revisão nas práticas de gestão de recursos do Estado ou se será mais um caso a cair no esquecimento — à medida que o avião presidencial de luxo desaparece nas nuvens, deixando uma trilha de indignação no solo moçambicano.