Cannabis Sativa: O Novo "Petróleo Verde" de Moçambique?

 

Moçambique pode estar à beira de uma revolução económica e social impulsionada por uma planta que durante décadas foi estigmatizada: a cannabis sativa. O líder do partido Nova Democracia (ND) propôs recentemente uma abordagem inovadora para o país, ao sugerir que a planta seja encarada como o novo "petróleo verde" de Moçambique. A proposta visa transformar o cultivo e uso da cannabis sativa numa alavanca para o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e a redução da pobreza.

Segundo o ND, o país possui condições naturais favoráveis para a produção em larga escala da planta, com potencial para beneficiar diversos setores da economia. Entre os mais promissores estão a indústria farmacêutica, a produção de tecidos e fibras, a construção civil com uso de materiais sustentáveis como o cânhamo, a alimentação, os cosméticos e os cuidados pessoais.

A proposta vai além da simples legalização. O partido defende uma auscultação pública ampla para ouvir a opinião dos moçambicanos sobre a descriminalização do consumo e a legalização do cultivo da cannabis. A ideia é que, com uma regulamentação rigorosa e orientada por dados científicos, Moçambique possa explorar de forma segura e eficaz os benefícios da planta.

Potencial Económico e Social

Em muitos países, a legalização da cannabis sativa gerou um forte impacto económico. Nos Estados Unidos, por exemplo, a indústria legal da cannabis movimenta bilhões de dólares anualmente e cria milhares de empregos. O ND acredita que Moçambique pode seguir caminho semelhante, adaptando essa experiência à sua realidade local e promovendo o desenvolvimento regional, especialmente em zonas rurais onde o cultivo poderia representar uma alternativa viável à agricultura de subsistência.

Além disso, o uso industrial da cannabis — especialmente do cânhamo — pode contribuir para soluções ecológicas e sustentáveis, desde a substituição de plásticos até à produção de materiais biodegradáveis. No setor da construção civil, o chamado “concreto de cânhamo” já é utilizado em vários países como alternativa sustentável e eficiente.

Um Tema que Ganha Força

A proposta do Nova Democracia surge num contexto de crescente debate internacional sobre a legalização da cannabis. A própria União Europeia tem manifestado apoio a uma abordagem equilibrada na África, defendendo políticas baseadas em evidências científicas, regulamentações claras e benefícios sociais mensuráveis [2].

Em Moçambique, o antigo Presidente da República, Filipe Nyusi, já havia apelado a uma “reflexão profunda” sobre o tema, reconhecendo a necessidade de estudos aprofundados e de cooperação internacional para que o país possa construir políticas públicas eficazes [1].

Desafios e Perspectivas

Apesar do entusiasmo, a proposta enfrenta desafios significativos. Questões como o controlo do tráfico, os impactos na saúde pública, o envolvimento da juventude e a regulação de uma nova indústria ainda exigem debates sérios e estudos multidisciplinares. O governo, a sociedade civil e os especialistas em saúde e economia terão um papel essencial na construção de um modelo viável.

O partido ND destaca que a descriminalização não significa a promoção do consumo, mas sim uma abordagem mais racional e menos punitiva, com foco na educação, na saúde pública e no aproveitamento das oportunidades económicas.

Moçambique pode estar prestes a transformar uma antiga planta num ativo estratégico do século XXI. Se bem gerido, o “petróleo verde” poderá representar uma nova era de prosperidade, inovação e justiça social. A decisão, no entanto, exigirá coragem política, diálogo aberto com a sociedade e uma visão de futuro comprometida com o bem comum.

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