Na tarde desta quarta-feira (28), a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) invadiu a sede da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na cidade de Maputo, num esforço para repor a ordem após a tomada da infra-estrutura por antigos guerrilheiros do partido há cerca de três semanas. A operação, marcada por tensão e uso de gás lacrimogéneo, ocorreu num momento de elevada instabilidade interna dentro da RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique.
Imagens divulgadas nas redes sociais e por alguns órgãos de comunicação mostram agentes da UIR fortemente armados a circular no quintal da sede, enquanto expulsavam os ocupantes, muitos deles acampados no local desde o início do impasse. A zona estava parcialmente coberta por fumaça de gás lacrimogéneo, utilizada para dispersar os manifestantes, e há relatos ainda não confirmados de prisões de antigos guerrilheiros durante a operação.
Guerrilheiros tomam o Gabinete do Presidente da RENAMO
Horas antes da intervenção da polícia, um grupo de desmobilizados e antigos guerrilheiros invadiu o Gabinete do Presidente da RENAMO, Ossufo Momade, instalado na mesma sede. Este ato agravou ainda mais o ambiente de tensão e expôs as divisões internas que vêm crescendo dentro do partido, com uma ala exigindo a renúncia imediata de Ossufo Momade da liderança.
O grupo insurgente alega que o atual presidente perdeu legitimidade e acusa a direcção do partido de não defender os interesses dos combatentes desmobilizados. Além disso, alguns membros dessa ala mais radical consideram que o Governo está a violar os Acordos de Paz de Roma, assinados em 1992, que previam a reintegração e apoio aos antigos combatentes da RENAMO.
Governo acusado de violar os Acordos de Roma
O site MZNews publicou hoje um artigo onde ecoa a insatisfação dos antigos guerrilheiros e desmobilizados, que acusam o Governo moçambicano de não cumprir integralmente os compromissos assumidos no âmbito dos Acordos de Roma e do mais recente Acordo de Paz Definitiva, assinado em 2019. Entre as queixas mais comuns estão a falta de reintegração social e económica, não pagamento de subsídios, bem como a exclusão de certos grupos do processo de desmobilização e reinserção.
RENAMO ainda sem reação oficial
Até ao momento, a direção da RENAMO ainda não se pronunciou oficialmente sobre os acontecimentos desta tarde. O silêncio do partido tem sido interpretado por muitos como sinal de crise interna profunda, o que levanta dúvidas sobre a sua estabilidade institucional e a capacidade de gerir os descontentamentos internos de forma pacífica.
Um partido em crise e um alerta à democracia
Os incidentes registados na sede da RENAMO colocam em evidência uma crise de liderança e de identidade dentro do partido, com potenciais repercussões na cena política nacional. A actuação da UIR, embora justificada pelas autoridades como uma medida para garantir a ordem pública, também acende o alerta sobre o espaço de diálogo democrático em Moçambique, num contexto em que o país ainda busca consolidar a paz e a reconciliação após décadas de conflito.
O episódio desta quarta-feira deixa um rasto de incertezas e pressiona tanto o Governo como a liderança da RENAMO a adotarem soluções políticas imediatas e inclusivas, que possam evitar novos confrontos e restaurar a confiança entre antigos combatentes, a direção partidária e o Estado moçambicano.
Mais desenvolvimentos são aguardados nas próximas horas, à medida que o país acompanha com atenção o desenrolar desta situação delicada no seio da oposição moçambicana.
Fonte: MZNEWS