Assalto da UIR à sede da RENAMO é classificado como “ultraje à memória de Dhlakama”, denuncia Venâncio Mondlane

 

O político moçambicano Venâncio Mondlane manifestou, na quinta-feira (29), profunda indignação face à operação levada a cabo pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR) na sede nacional da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), em Maputo. O incidente, ocorrido na quarta-feira, envolveu a expulsão e a detenção de antigos guerrilheiros do partido, o que Mondlane classificou como uma grave humilhação e um ataque direto ao legado do falecido líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama.

Durante uma intervenção pública transmitida ao vivo a partir de Oslo, Noruega, Mondlane não poupou críticas à actual liderança da RENAMO, liderada por Ossufo Momade, bem como ao papel da UIR, que, segundo ele, tem se tornado “o maior símbolo de opressão no país”.

O que aconteceu na sede da RENAMO foi uma vergonha de todo o tamanho”, declarou Mondlane. “Foi um ultraje à memória de Afonso Dhlakama, o homem que deu tudo para que Moçambique trilhasse o caminho da democracia.”

Memória de Dhlakama lançada ao esgoto

Para o ex-parlamentar e ex-membro da RENAMO, a entrada da UIR na sede do partido, com autorização da própria liderança interna, é um acto “inconcebível”. Ele considera que esse momento representa o ponto mais baixo da história da RENAMO desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.

Este é o insulto mais grave que Afonso Dhlakama podia ter. A sua memória foi lançada ao esgoto com esta acção”, disse Mondlane em tom visivelmente emocionado.

A operação policial resultou na retirada forçada de antigos guerrilheiros do partido, que ainda se encontravam em funções ou nas instalações. Segundo fontes locais, alguns desses membros foram temporariamente detidos, gerando um forte sentimento de revolta em várias alas internas da RENAMO, bem como entre simpatizantes.

Crítica à juventude e à passividade interna

Durante a mesma intervenção, Venâncio Mondlane também criticou duramente o que classificou como a passividade dos actuais dirigentes e membros de base da RENAMO. De forma especial, dirigiu-se à juventude do partido, acusando-a de falta de espírito revolucionário e de conformismo.

“A juventude da RENAMO hoje está totalmente conformada. A única coisa por que lutam é um lugar na Assembleia da República. Não há mais chama, não há mais causa, só há ambição pessoal”, lamentou.

O político também denunciou o silêncio dos chamados “membros de gema” do partido, que segundo ele, têm se mostrado apáticos diante de uma crise que ameaça destruir o próprio legado da RENAMO enquanto força política de oposição.

Liderança de Momade sob forte contestação

Esta não é a primeira vez que Ossufo Momade, presidente da RENAMO desde a morte de Dhlakama, enfrenta duras críticas internas. Desde sua ascensão ao poder, membros da ala militar e vários antigos combatentes têm questionado sua liderança, acusando-o de estar mais alinhado com interesses do governo do que com os ideais fundadores do partido.

A recente acção da UIR, aparentemente com anuência da liderança partidária, reacendeu o debate sobre o futuro da RENAMO e sobre até que ponto o partido ainda mantém sua essência como símbolo da resistência e da luta democrática em Moçambique.

Clima de tensão no seio da oposição

O episódio elevou ainda mais o clima de tensão política em Moçambique, especialmente entre os partidos da oposição. Analistas políticos alertam que este tipo de acção pode não apenas minar a estabilidade interna da RENAMO, mas também fragilizar ainda mais o ambiente democrático no país.

Enquanto isso, Venâncio Mondlane continua a desempenhar um papel ativo na cena política moçambicana, mesmo fora das estruturas da RENAMO, e reforçou o seu compromisso em denunciar todas as formas de abuso de poder e traição aos ideais democráticos.

Enviar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem