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Quando a proteção vira ameaça: populações de cabo delgado desconfiam dos “baka baka”

 

Ruptura de confiança entre militares e comunidades

O conflito em Cabo Delgado, que desde 2017 assola o norte de Moçambique, trouxe uma realidade inesperada e dolorosa: a população local começa a temer não apenas os insurgentes, mas também aqueles que deveriam protegê-la — os militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), conhecidos popularmente como “baka baka”.

Em Mueda, um combatente da Força Local, em conversa em shimakonde, relatou um cenário de desconfiança que ecoa entre muitos habitantes:

“Os ‘baka baka’ estão a aprontar coisas aqui. Anteontem estavam em Diaca a disparar. Quem são os baka baka? São os nossos [militares da FADM]... Eles querem nos extinguir... estão a matar as Forças Locais… que os devolvam para as suas terras em Maputo.”

Este depoimento, revela a transformação de uma relação que deveria ser de proteção em uma dinâmica de medo e rejeição.

Um conflito com múltiplas frentes

A insurgência em Cabo Delgado é marcada por ataques violentos de grupos ligados ao al-Shabab, responsáveis por milhares de mortes e deslocamentos forçados. A resposta militar do Estado contou com apoio das FADM, da força da SADC (SAMIM) e de tropas do Ruanda, que reconquistaram posições estratégicas como Mocímboa da Praia e Palma.

Apesar de vitórias militares no terreno, a relação com as comunidades continua fragilizada. Relatos de abusos, má conduta e violência contra civis alimentam a ideia de que os militares são mais uma ameaça, em vez de aliados na luta contra o terrorismo.

Consequências da perda de legitimidade

A imagem negativa dos “baka baka” aponta para uma crise de legitimidade com graves implicações:

Alienação das comunidades, que deixam de confiar no Estado;

Perda de cooperação local, essencial para identificar e neutralizar insurgentes;

Aumento da vulnerabilidade, já que a população se sente encurralada entre dois inimigos — os terroristas e as próprias forças de segurança.

Esse afastamento revela que a vitória militar, por si só, não garante estabilidade se não for acompanhada de confiança, diálogo e proteção efetiva às comunidades.

Um alerta para o futuro

Restabelecer a confiança exige mais do que operações militares. É necessário:

1. Combater abusos e responsabilizar agentes;

2. Promover desenvolvimento comunitário com saúde, educação e emprego;

3. Reforçar o diálogo com líderes locais, valorizando a voz da comunidade;

4. Integrar a população nas soluções de segurança, sem tratá-la como suspeita.

O testemunho sobre os “baka baka” mostra que, em Cabo Delgado, a guerra não é apenas contra insurgentes armados, mas contra a erosão do contrato social entre Estado e cidadãos. A paz só será possível quando os protetores deixarem de ser vistos como inimigos.

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