O crescimento dos casos de suicídio em várias províncias de Moçambique tem despertado grande preocupação entre líderes comunitários, religiosos e activistas sociais. O fenómeno, que afecta sobretudo jovens, está a ser encarado como um desafio social urgente que exige diálogo, vigilância e maior atenção à saúde mental.
A secretária-geral da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), Cidália Chaúque, destacou a gravidade do problema no final de uma visita de três dias à Província de Maputo. Durante a avaliação dos projectos da organização, Chaúque frisou que a violência e a degradação dos valores familiares afectam directamente os jovens, salientando que o diálogo nacional promovido pelo Presidente da República constitui uma oportunidade para restaurar a coesão social e prevenir situações de desespero.
O bispo da Diocese de Inhambane, Ernesto Manguengue, também reforçou a necessidade do diálogo dentro das famílias. Segundo ele, uma das principais causas do suicídio é o silêncio das vítimas. “As famílias devem prestar atenção ao dia-a-dia de cada membro, acompanhando desvios de comportamento e cuidando das emoções e do bem-estar de todos”, apelou. O religioso revelou ainda que, só na última década, Inhambane registou mais de 800 mortes por suicídio, sublinhando a urgência de um acompanhamento mais próximo, sobretudo entre adolescentes e jovens.
Na cidade da Beira, activistas sociais como Vanessa Macamo e Isabel Limpo defendem o reforço do apoio psicossocial, incluindo a criação de uma linha telefónica especializada. Para Macamo, “a saúde mental é essencial para o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos jovens”. Já Limpo alertou que muitas pessoas carregam “pesos invisíveis” e que sinais de risco de suicídio, embora visíveis, são frequentemente ignorados. Ela sugeriu consultas públicas gratuitas e maior proximidade dos serviços de saúde às comunidades.
Dados oficiais revelam que a província de Inhambane registou nove casos de suicídio no primeiro semestre de 2025, sobretudo nos distritos de Massinga, Funhalouro e Govuro. Em 2024, tinham sido contabilizados cerca de 100 casos, confirmando a tendência preocupante. A nível nacional, a taxa de suicídios atinge 17,3 por 100 mil habitantes, uma das mais elevadas do continente africano.
O consenso entre líderes, activistas e instituições é claro: a prevenção do suicídio deve assentar numa acção integrada, envolvendo famílias, comunidades religiosas, sociedade civil e Estado. O apoio psicossocial, o diálogo inclusivo e a vigilância comunitária surgem como pilares fundamentais para enfrentar este fenómeno que ameaça, de forma crescente, o tecido social moçambicano.

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