Venâncio Mondlane critica duramente Daniel Chapo por comparar protestos à guerra civil
O ex-candidato presidencial moçambicano, Venâncio Mondlane, repudiou publicamente as recentes declarações do Presidente Daniel Chapo, que comparou os danos causados pelos protestos pós-eleitorais aos estragos da guerra civil de 16 anos em Moçambique. Para Mondlane, a comparação é não apenas “um absurdo histórico”, mas também um insulto à memória coletiva do país.
Declaração polêmica de Chapo
Durante um discurso em 27 de julho, Chapo afirmou que os protestos ocorridos em vilas da província da Zambézia — como Morrumbala, Mocubela e Macurra — teriam deixado “danos piores do que aqueles que a guerra dos 16 anos causou”. Segundo ele, as localidades foram “totalmente destruídas”, com prejuízos graves em hospitais, mercearias e outras infraestruturas.
Resposta contundente de Mondlane
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais, Mondlane reagiu com firmeza, destacando que a guerra civil moçambicana, entre 1977 e 1992, custou a vida de cerca de um milhão de pessoas, além de gerar milhões de deslocados internos e refugiados. “Comparar manifestações populares com um conflito que ceifou vidas e destruiu o país é um insulto à nossa história”, declarou.
Ele recordou ainda o longo processo de recuperação do país após o fim da guerra: “Levamos mais de duas décadas para eliminar as minas terrestres. O PIB caiu de forma drástica, o sistema educativo entrou em colapso, e 30% das escolas primárias estavam fechadas”.
Crítica à narrativa governamental
Para Mondlane, as declarações de Chapo são uma tentativa de deslegitimar a revolta popular e desviar a atenção das causas reais das manifestações, que segundo ele, refletem o descontentamento profundo com as condições sociais e políticas. Ele classificou a comparação como “irresponsável” e “ofensiva” para com os sobreviventes e vítimas do conflito armado.
A controvérsia reacende o debate sobre o uso político da memória histórica em Moçambique. Enquanto setores do governo tentam enquadrar os protestos como ameaças à estabilidade, líderes da oposição insistem que o verdadeiro foco deve estar na resolução dos problemas sociais que afligem a população.