O ex-candidato presidencial moçambicano, Venâncio Mondlane, fez nesta sexta-feira, 27 de junho, duras acusações contra a Procuradoria-Geral da República (PGR), alegando estar a ser alvo de uma tentativa de culpabilização total pela crise que se seguiu às eleições gerais de 9 de outubro de 2024.
À chegada à sede da PGR, onde compareceu no âmbito de mais de 30 processos judiciais movidos contra si, Mondlane declarou à imprensa que há um esforço concertado para lhe atribuir, de forma isolada, toda a responsabilidade pelas manifestações e episódios de tensão que tomaram conta do país após o pleito eleitoral.
“É como se quisessem desesperadamente reunir qualquer tipo de prova para colocar o foco todo em mim. Sabemos que essa crise teve várias origens: envolveu órgãos de justiça, órgãos eleitorais e até ações da polícia", disse Mondlane à Agência Lusa.
Segundo o político, esta abordagem da PGR ignora as complexas causas que estiveram por trás da agitação social vivida em diversas províncias, com destaque para Maputo, Nampula, Sofala e Zambézia, onde se registaram protestos violentos e confrontos com as forças de defesa e segurança. Os episódios pós-eleitorais resultaram em cerca de 400 mortos, feridos e prejuízos materiais avultados, o que motivou preocupações a nível nacional e internacional.
Mondlane defende que a Procuradoria deveria, enquanto entidade máxima na defesa da legalidade, investigar de forma ampla e imparcial os múltiplos fatores que desencadearam a crise, incluindo o papel dos tribunais eleitorais, da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e da Polícia da República de Moçambique (PRM), em vez de se concentrar exclusivamente na sua figura.
O político reiterou que o momento exige uma abordagem "multifacetada, sensível ao contexto e livre de perseguições políticas", para que o país possa avançar no caminho da reconciliação e da justiça.
As declarações de Mondlane surgem num momento de crescente tensão entre partidos da oposição e instituições do Estado, com várias organizações da sociedade civil a clamarem por maior transparência e responsabilização no pós-eleitoral.