Melhorias agrícolas aliviam crise alimentar, mas PMA e FAO alertam para fragilidade dos avanços
Moçambique e outros países da África Austral e Oriental foram removidos da lista de “Pontos Críticos de Fome” das Nações Unidas, graças à significativa melhoria nas colheitas após o fim do devastador El Niño de 2023/24. A informação consta do relatório semestral divulgado esta segunda-feira (16) pelo Programa Mundial de Alimentação (PMA) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Além de Moçambique, foram também retirados da lista os países Malawi, Namíbia, Lesoto, Zâmbia, Zimbabwe, Níger, Etiópia, Quénia e Líbano. O relatório destaca que, embora a exclusão desses países represente um progresso relevante, a situação continua preocupante e exige constante monitoria, uma vez que os ganhos ainda são considerados frágeis.
Segundo as agências da ONU, a região sul do continente começa a recuperar-se do impacto do El Niño, que durante a temporada passada causou uma das secas mais severas da história recente. Em Moçambique, dezenas de milhares de famílias sofreram com a insegurança alimentar, perda de rendimentos e colheitas extremamente reduzidas.
Com o enfraquecimento do El Niño e a breve transição para um fraco La Niña, chuvas tardias, mas benéficas, ajudaram a impulsionar a recuperação agrícola. No caso da Zâmbia, por exemplo, a colheita de milho básico deverá atingir um volume recorde de 3,6 milhões de toneladas — mais que o dobro da produção do ano anterior, que mal chegou a 1,5 milhão de toneladas.
A África do Sul, um dos maiores produtores de grãos da região, também registou melhoria significativa: a safra de milho cresceu mais de 14%. Como reflexo direto, o preço do milho branco sul-africano — base alimentar para milhões de famílias — caiu cerca de 13%, passando de 980 dólares por tonelada em janeiro para aproximadamente 855 dólares em junho.
Esses resultados positivos aliviam não só o espectro da fome, mas também as pressões inflacionárias sobre alimentos básicos, o que poderá beneficiar as economias da região que dependem fortemente da agricultura para subsistência e exportações.
Contudo, o PMA e a FAO alertam que a segurança alimentar ainda está em risco, caso surjam novos choques climáticos ou perturbações no fornecimento de ajuda humanitária. "Essas melhorias são encorajadoras, mas temporárias. Precisamos de investimento contínuo na resiliência agrícola e nas redes de proteção social", destaca o relatório.
Para Moçambique, a saída da lista de pontos críticos é um sinal de esperança e resistência, mas também um apelo para consolidar os progressos com políticas eficazes, apoio técnico aos agricultores e preparação frente aos crescentes desafios das mudanças climáticas.