Moçambique Regista 25 Mil Novos Casos de Cancro Todos os Anos: Falta de Especialistas Preocupa Autoridades de Saúde

 

Moçambique enfrenta um sério desafio de saúde pública com o aumento dos casos de cancro diagnosticados anualmente. De acordo com a chefe do Programa Nacional Científico de Controlo do Cancro, Cesaltina Lorenzoni, o país regista cerca de 25 mil novos casos de cancro por ano, sendo uma das principais causas de mortalidade em território nacional. A informação foi partilhada durante um workshop multidisciplinar sobre o tratamento do câncer, realizado na última quinta-feira (05/06), em Maputo.

Segundo Lorenzoni, o Hospital Central de Maputo (HCM) — a maior unidade hospitalar do país — diagnostica entre 2.700 a 3.000 novos casos anualmente, o que revela uma elevada pressão sobre os serviços oncológicos, especialmente considerando a limitada capacidade de resposta do sistema de saúde.

Dados oficiais divulgados em 2022 mostram que aproximadamente 17 mil moçambicanos perdem a vida anualmente devido a diversos tipos de cancro. Os números são alarmantes e refletem a urgência de políticas eficazes que abordem não apenas o tratamento, mas também a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.

Carência de Recursos Humanos Especializados

Um dos maiores obstáculos enfrentados no combate ao cancro em Moçambique é a escassez de profissionais médicos especializados na área. “Há dez anos, o cancro não era prioridade. Os médicos formavam-se em pediatria geral, cirurgia e outras áreas, sem foco específico na oncologia”, destacou Lorenzoni durante o seu discurso.

Hoje, a realidade começa a mudar. O Ministério da Saúde está empenhado em reforçar a formação de especialistas locais. Atualmente, quatro médicos moçambicanos estão em processo de especialização em câncer ginecológico, e outras áreas como o câncer de mama, do colo do útero e câncer pediátrico também estão a receber atenção especial.

“Não basta termos infraestrutura ou equipamentos modernos. Precisamos de profissionais qualificados que saibam interpretar, discutir e aplicar os tratamentos corretos para salvar vidas”, sublinhou Lorenzoni.

Para colmatar o défice de especialistas, o governo tem apostado na utilização de clínicos gerais, que estão a ser alocados aos hospitais centrais e provinciais. No entanto, essa medida é vista como paliativa e insuficiente para enfrentar a complexidade dos tratamentos oncológicos.

Colaboração Internacional no Combate ao Cancro

O workshop que decorreu em Maputo reuniu 60 profissionais da saúde de Moçambique e de outros 10 países, incluindo Estados Unidos, Brasil, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Quênia, Gâmbia, Etiópia, Ruanda e Nigéria. A troca de experiências e conhecimentos entre as nações é considerada vital para fortalecer a capacidade de resposta ao câncer, sobretudo em países em desenvolvimento como Moçambique.

Além da formação de recursos humanos, o evento também discutiu abordagens modernas e integradas de tratamento, políticas de rastreio populacional e a necessidade de investir em campanhas de sensibilização para promover o diagnóstico precoce — uma das formas mais eficazes de reduzir a mortalidade.

Moçambique encontra-se num ponto crítico no combate ao câncer. Embora os números sejam preocupantes, existe um esforço visível para reverter o cenário através da capacitação de profissionais e da cooperação internacional. No entanto, para alcançar resultados mais eficazes, será necessário um investimento contínuo em formação, infraestrutura, equipamentos e políticas públicas abrangentes que coloquem a luta contra o câncer no centro das prioridades de saúde nacional.

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